Reflexões sobre a morte – e sobre a vida

Reflexões sobre a morte

“Não se pode conceber a ideia de vida descartando a possibilidade de morte.” (Martins e Albuquerque)

Do nascimento até a morte perdemos. Perdemos a forma de espermatozóides para por fim sermos um feto, depois um bebê, uma criança, adolescente, pessoa adulta, uma pessoa idosa.

Perdemos dentes, roupas, bichos, amizades, relações, expectativas, sonhos, formas corporais, cabelo.

Nós perdemos!

E ainda assim a morte parece ser insuportável. É muito difícil mesmo.

Saber que vamos morrer um dia é fundamental para nossa vida. Para termos metas, sabermos administrar nosso tempo, sonhos e aquilo que daremos atenção e importância.

Ao longo da história da humanidade, a morte foi vista de formas diferentes:

Como parte da vida, algo íntimo vivenciado por todas as pessoas e idades (as crianças faziam parte dos rituais e cerimônia fúnebres).

Depois como algo vergonhoso, fracasso e inaceitável. Pois feria nossa ilusão de controle sobre tudo e todos.

Atualmente, a morte encontra-se institucionalizada nos hospitais e outras instituições que fazem o que antigamente a família faria no processo de despedir-se do morto e iniciar a elaboração do luto.

Hoje não há tempo para enlutar-se para sentir a dor. Dores e perdas não são aqui, necessárias ou têm alguma boa função para nosso crescimento.

Certo que aprendemos pela dor e pelo prazer… Mas, como dizem por aí, “a morte é um dia que precisa ser vivido”.

Querendo ou não, sabendo lidar ou não, se preparando ou não, a morte é uma realidade. Uma condição. Uma bússola.

Com as transformações sociais na ciência e tecnologia, mercado e relações de consumo, a morte passa a ser vista como fracasso, algo a ser evitado.

Muda-se a nossa forma de ver e lidar com ela.

Precisamos lembrar que, por trás da nova visão, estão valores capitalistas e ocidentais que demandam de nós força, beleza e equilíbrio (que seria um distanciamento radical de emoções consideradas negativas, como a tristeza) – de maneira a estarmos sempre prontas para consumir.

Essa dificuldade excessiva em lidar com a morte, rouba de nós a consciência de nossas limitações, vulnerabilidades, nos escondendo na ilusão da #mulhermaravilha. E #superman.

Saber-se finita nos direciona na vida. Nos convida a pensar a existência de forma autêntica e congruente.

É lembrar que o aqui e agora são tudo que temos e que podemos ofertar a quem amamos.

HOJE!
AGORA!
AQUI!

Como diz o mestre : “É morrendo que se vive e é vivendo que se morre.”

Colunista do Fora da Trama

Ailena Júlie – Mulher negra, Feminista, Baiana, Psicóloga (CRP 03/15296). Presidente do Conselho Municipal de Assistência Social e Coordenadora do CRAS de Maraú/BA. Especialista em Gestão Pública/UESC. Psicóloga convidada do CRP03. Estudante de Ciências Sociais, e, ao mesmo tempo, membro da Comissão Regional de Psicologia da Assistência Social. Além disso, colunista do Fora da Trama.  

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no whatsapp
Compartilhar no telegram
Grupo Fora da Trama

Grupo Fora da Trama

Trabalho voluntário idealizado com o propósito de somar no combate à violência e apoiar o caminho de superação de relacionamentos abusivos. @foradatrama