Sexo em silêncio: rivalidade feminina e baixa auto estima implicam em esforços de proporcionar prazer apenas ao outro

carta aberta de acolhimento

Quando falamos em superação de um relacionamento abusivo pensamos e investimos em várias vertentes de tratamentos que necessitamos – o principal é a recuperação do nosso psicológico que, de fato, fica bastante abalado.

Por outro lado, é necessário dar atenção a outras vertentes que restam por vezes esquecidas, mas que são de suma importância para a busca de independência e ascensão das mulheres

A nós é constantemente questionado qual o motivo de tanta revolta e indignação, (com até certo tom de ironia, como se não tivéssemos um porquê, mas quando falamos do problema, pouco se ouve). Questionam a motivação sem perceber que essa é a própria causa, ou melhor, o próprio problema.

Se quem questiona pudesse ouvir e absorver qual é o problema, talvez entendesse a motivação. Questiona-se o motivo e não quer enxergar o problema. Penso que aquele que tem dificuldade de compreender o problema é, em sua maioria, aquele que se beneficia do problema…

Dentre todos os estigmas que se cria em torno da mulher ideal, aquela que se tornaria alvo fácil do abuso e facilitaria o contínuo domínio do Patriarcado, o estigma mais estigma de todos é a nossa sexualidade. Fortemente reprimida e constantemente colocada em xeque como parâmetro perfeito a nos definir.

Mais antigamente chamavam-nos desonradas, o termo sim deixou de ser usado, mas o estigma, o preconceito, as falações seguem destravados e invadem nossos seres. Porque falam, mas ninguém pensa em como a mulher se coloca perante ao que ouve de si e, muito mais importante… em como ela se sente ao ouvir o que falam de si.

A mulher injustamente chamada desonrada, ao meu ver, é aquela que deixa de esperar. Ela não quer mais e não espera mais que o outro venha trazer a ela algo que ela percebe que pode, ela mesma, conquistar. Dentre essas ascensões está a busca pelo prazer e em explorar a sua sexualidade.

Pense, se em apenas ler sobre isso, escrever sobre isso, somos julgadas, imagine o quanto fomos reprimidas ao longo da história.

Somos constantemente comparadas umas a outras, num eterno fight de quem é a mulher mais ideal para se casar com o homem perfeito, quem tem o corpo mais bonito, o comportamento mais adequado, a pele mais lisa, o cabelo mais sedoso, a carreira mais bem-sucedida, o filho melhor educado, o rosto mais simétrico e por aí vai…

Quando olho para uma mulher que tem aquilo que eu acho que não tenho e sinto vontade de ser como ela é, fazer como ela faz, ter o que ela tem para garantir o olhar de quem eu ACHO que desejo, de quem eu ACHO que seria o ideal para mim, acabo por me colocar num mar profundo e turbulento da inveja.

Enxergo a inveja como um boicote que a pessoa faz com si mesma – e parece ser um fardo pesado. Nunca serei como o outro, e quando passo apenas a olhar para fora deixo de olhar para dentro. Ao invés de buscar uma melhor versão de mim, me encontro presa num desejo fadado ao fracasso de ser outra pessoa, e assim me perco…

Nessa rivalidade construída através da busca pelo Príncipe ou pela Princesa encantada, em que cegamente as mulheres se veem com a necessidade de proteger algo que na cabeça dela seria de sua posse, ela acaba por se anular e esquecer de cuidar de si, esquece de se dar prazer.

Ao menino, na infância, ensina-se o quanto sexo é importante e o quanto é válido ele se fazer gozar. Para a menina é ensinado que ela deve cumprir seu papel reprodutor e assim se tornar mãe e cuidadora. Se tocar nem pensar, o seu prazer é pecado, é mal visto e, é bom que ela proporcione sexo suficiente para o “seu homem”, para que ele não procure fora de casa.

O empoderamento feminino é, também, sobre poder sentir prazer sem a necessidade de ser julgada por senti-lo.

E descobrir o que te dá prazer talvez seja uma das coisas mais belas de se viver. Diante de um mundo que criou o padrão de beleza midiático e inalcançável, eu vejo que bonito mesmo é saber o que te deleita.

“Se ela quer esses fracos? Nenhum”.

Quando em desconstrução passo a enxergar essa rivalidade e o que gira em torno dela e, começo a entender a futilidade e o quanto é desnecessário todo esse esforço para ter alguém que muitas vezes apenas me deleta ao invés de proporcionar um mínimo de reciprocidade.

Experienciando a masturbação, notei que em nada tem relação à emissão de sons com o orgasmo. Na realidade, ao menos pra mim, percebi que mais tem a ver com sentir o que está acontecendo no próprio corpo, respirar profundamente conforme os movimentos realizados e ainda assim, perder completamente o controle ao se entregar àquelas sensações bastante prazerosas.

Explorar a vulva pode te trazer experiências únicas, mas por vezes o parceiro pode estar mais preocupado em “meter”, “comer”, “fuder”, até para ter o que contar para os amigos na mesa do bar – e não em te proporcionar prazer.

Percebo que por vezes os gemidos altos são mais parte de um cenário do que de fato expressam alguma satisfação. É como se fosse esperado ainda que eu demonstre algum tipo de prazer fictício afim de suprir a necessidade do outro. Não que seja proibido gemer, mas sim deveria ser proibido fingir orgasmo – mas isso é comum demais entre as mulheres.

A autossatisfação está intimamente ligada à autoestima.

Lê de novo.

Relaxa e goza.

Colunista do Fora da Trama

Mariana Flauzino – Advogada (OAB 431.278) formada pelo Centro Universitário Eurípedes de Marília. Atua na área de Direito Trabalhista. Simultaneamente, é pós graduanda em Direito da Mulher e, por fim, colunista do FDT.

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Grupo Fora da Trama

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Trabalho voluntário idealizado com o propósito de somar no combate à violência e apoiar o caminho de superação de relacionamentos abusivos. @foradatrama