Academias, padronização da beleza e o falso discurso de saúde

Daniel Netto de Aquino

Academias, padronização da beleza e o falso discurso de saúde. Os espaços destinados para prática da atividade física são marcados pela produção de diferentes narrativas que buscam sua consolidação na associação do exercício como mecanismo de autocuidado físico e mental.

Entretanto, através de análises observacionais, inclusive, por meio dos estudos realizadas pela etnografia urbana, podemos notar que a gênese destes espaços sofre influência de dois discursos normatizadores: a culpabilização do sedentarismo e do sobrepeso e a padronização do corpo.

No primeiro momento, o nível de condicionamento físico tornou-se sinônimo de saúde, e a prevenção de diversas doenças seria realizada pelo emagrecimento e pela redução do percentual de gordura.

O corpo saudável passou a ser associado como um corpo magro e o surgimento das doenças passou a ser justificado pela falta de cuidado com o físico. Logo, o sobrepeso é visto como “preguiça, comodismo” e como não valorização da vida.

Entretanto, este discurso não considera o recorte de classe social.

É de extrema importância considerar o nível socioeconômico dos frequentadores e o número de horas livres disponíveis ao lazer e à prática de atividade física.

A mulher com dupla jornada de trabalho que permanece horas no transporte público, por exemplo, internaliza que é sua responsabilidade a manutenção de práticas saudáveis. Além disso, acaba por acreditar que é culpada pelo surgimento de diversas comorbidades (ou seja, o problema de cunho coletivo, que requer análises sociais, passa a ser de caráter individual.)

Desse modo, as academias servem para uma parcela da população com recurso financeiro para o investimento e com tempo livre disponível. Ademais, a percepção de saúde dos praticantes de musculação, por exemplo, é de uma visão limitada pela estética.

As fichas de treino são, muitas vezes, preenchidas com exercícios apenas para o crescimento dos músculos, sem valorização de aspectos de flexibilidade, de mobilidade articular e do relaxamento das cadeias musculares.

Neste ponto, é possível desconstruir os recentes apelos pela abertura das academias para o cuidado com a saúde, pois a saúde – na visão ampla biopsicossocial – nunca foi reflexão realizada por grandes partes dos frequentadores.

É possível romper com este paradigma e construir uma visão dinâmica de saúde na perspectiva biopsicossocial, dentro destes espaços? Esta é uma reflexão que tenho realizados todos os dias.

E aconselho a você observar quem são os frequentadores destes espaços e como seu professor/professora lida com este discurso e seleciona os exercícios para o seu treino.

Colunista do Fora da Trama

Daniel Netto de Aquino – Estudante de Medicina (UNIRIO), Bacharel e Licenciado em Educação Física (UFV), com pós graduação em Saúde do Adulto (HU UFJF) e Educação em Saúde (UFMG). Atua como Personal Trainer na cidade do Rio de Janeiro. Além de tudo, é Colunista do Fora da Trama.

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Trabalho voluntário idealizado com o propósito de somar no combate à violência e apoiar o caminho de superação de relacionamentos abusivos. @foradatrama