Protagonismo Feminino sob a ótica da mulher negra

Sobre protagonismo feminino sob a ótica da mulher negra: Na sua vida até o exato momento, quantas mulheres pretas você já viu em posições de liderança? Quantas mulheres pretas você já viu na TV em novelas, séries e filmes com papéis de destaque/protagonista? E quantas lecionando em Universidades? Por último, quantas em palestras e debates e/ou posições políticas?

Você com certeza não faz esses tipos de questionamentos constantemente porque a visibilidade da mulher preta ainda não é pauta e ação da sociedade racista, machista, patriarcal, branca e homofóbica que vivemos, onde mais da metade da população é negra/afrodescendente.

Para falarmos de protagonismo de mulheres pretas, temos que iniciar nossa reflexão partindo do ponto que estamos: É preciso nos devolver nossos espaços, agora!

Digo devolver, pois o racismo estrutural desse país alimenta o silenciamento diário de mulheres negras que possuem suas ideias, práticas, sonhos, posicionamentos, estudos, estruturas e ancestralidade.

Alguns pontos principais sobre o debate

Esse silenciamento ocorre desde o nosso nascimento, e diante da dimensão do que somos não apenas para esse país, mas para o mundo, temos o direito de tomar a frente nas diferentes áreas de nossas existências.

O protagonismo é a visibilidade, respeito, espaços de falas, consciência da importância de nossas histórias e ações na sociedade. É o processo de findar a desumanização da pele preta, findar a sexualização de nossos corpos, findar a ideia de “exóticas” o que é extremante racista e sexista, é não ter que “provar” a todo custo nossos talentos, inteligência, potências e conhecimentos diante da sociedade que vivemos.

Se você é uma pessoa privilegiada (busque conhecimentos sobre seus privilégios de cor de pele, gênero, local que mora, renda etc.) entenda que passou da hora de ceder seu local privilegiado de fala para nós, pessoas pretas, especificamente mulheres pretas com nossas bagagens riquíssimas.

Representatividade e protagonismo

A representatividade que o protagonismo gera é gás para outras mulheres e até mesmo crianças, a nova geração que está chegando. É inspiração para nos sentirmos seguras no que somos, nos que podemos ser e onde queremos chegar.

Me lembro, quando mais jovem, a importância de ver Thais Araújo em novelas, Beyoncé ganhando o mundo. Hoje, vendo Naruna Costa, Jessica Barbosa dentre outras artistas extremamente talentosas e potentes na TV, séries e cinema.

Lendo Conceição Evaristo, Bell Hooks, Angela Davis, Dione Carlos, Grace Passô, Carolina Maria de Jesus, vejo a importância de ter mulheres parecidas comigo em ascensão, destaque, visibilidade e referência não só para mim, mas para as próximas depois de mim.

Ouvir Luedji Luna, Alcione, Ludmilla, Xênia França, Jovelina Pérola Negra, Drik Barbosa, Tassia Reis, Liniker, Elza Soares, Linn da Quebrada, Mc Carol dentre muitas outras cantoras abre possibilidades, caminhos, coragem, inspiração e referência para todas nós.

O protagonismo de mulheres negras é um ato político, necessário. Marielle Franco movimentou e ainda movimenta nossas lutas constantes, diárias. Erica Malunguinho é representatividade política, de existência.

Devemos conhecer cada vez mais as mulheres pretas extraordinárias que somos e que podemos ser. Somos protagonistas de nossas vidas, mas é necessário mais que isso, é necessário sermos vistas como realmente somos, garantir oportunidades no mercado de trabalho.

Sou artista, atriz e estudante de dança e conto que não é fácil, mas sigo na constante prática da minha expressão como ser humano do jeito que sou, onde quero chegar e para quem quero falar. Protagonizo minha vida, mas tenho muita coisa para abrir para o mundo, e assim como eu, outras artistas pretas também.

A vinda, a descoberta, o espaço que nós estamos dominando é apenas o começo, temos muito para abrir para o mundo, é a ponta do iceberg.

Colunista do Fora da Trama

Giovana Lima – Artista curiosa, vinda do bairro São Mateus, periferia da cidade de São Paulo. Busca as diferentes formas de expressividade do corpo preto feminino e suas trajetórias, baseando-se em suas vivências. Formada em Teatro pela Escola Livre de Teatro de Santo André (ELT). Atualmente é estudante de Dança pela Etec de Artes – SP. Ainda, membro do grupo de teatro de narrativas pretas Coletivo Laaye, em processo criativo de sua pesquisa intitulada “Nebulosas”, ao mesmo tempo em que é colunista do FDT. 

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Grupo Fora da Trama

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Trabalho voluntário idealizado com o propósito de somar no combate à violência e apoiar o caminho de superação de relacionamentos abusivos. @foradatrama